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A importância do ESG no agro
Thiago Itacaramby
A invasão da Ucrânia pela Rússia escancarou a grande dependência que os países ocidentais têm dos combustíveis fósseis e também dos fertilizantes e já deixa a lição de que a segurança energética, alimentar e da própria população podem andar lado a lado com um projeto de boas práticas socioambientais no combate às mudanças climáticas. Diretamente afetado pela guerra, o agronegócio precisa buscar novas soluções, com propostas que vão além dos resultados financeiros e que gerem valor para a sociedade e meio ambiente.
A jornada da sustentabilidade pela qual estamos vivendo hoje, cujo demandante é o próprio mercado financeiro, onde essencial é que empresas passem a identificar, gerir e entender os valores econômicos de seus impactos, assim como os de suas atividades diretas, sejam eles positivos ou negativos - sendo transparentes no reporte e compartilhamento de seus avanços. Um dos elementos-chave para esse avanço é métrica.
Neste cenário surge a cultura ESG (questões ambientais, sociais e de governança), com o propósito de engajar empresas e organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. Traduzindo em miúdos, ESG são princípios, práticas e ações que empresas, entidades e organizações devem adotar para que o mundo caminhe para um desenvolvimento mais sustentável. Conforme o relatório Who Cares Wins, uma organização (pública ou privada) que está em conformidade com práticas ESG entende quais são seus impactos negativos e positivos na sociedade e consegue agir sobre eles.
O ESG não trata apenas de uma ação de marketing ou de vender uma imagem positiva do agronegócio. É uma forma de repensar todo o negócio, pois avalia riscos e oportunidades de investimentos. É realidade já, há um bom tempo nos mercados europeus e Estados Unidos, quem não aderir suas estratégias ficará para trás hoje e principalmente no futuro, onde teremos uma geração que cada vez mais busca transparência e coerência com seus valores. Afinal, o consumidor, acionistas, enfim, quem quer que seja, sentirá à vontade para adquirir produtos (commodities) de uma cadeia que apresenta riscos, ou, mais agravante ainda, oriundos de áreas desmatadas.
Impacto é o "novo lucro", pois a sociedade vê valor em quem, de fato, gera valor para todos. O grande desafio aqui é não simplificar questões complexas, porque a vida não é sobre dinheiro ou balanços, não pode ser reduzidas a uma cifra, mas o que precisamos é um esforço coletivo para medir, gerir também o impacto do que é gerado por uma empresa e compartilhado com todos os públicos de interesse, na sigla em inglês, os stakeholders. No caso do agronegócio, o social, bem como as questões ambientais são condições sine qua non nessa nova proposta de valor. Temas como diversidade e a inclusão de mulheres no mundo agro é uma pauta que precisa está cada vez mais evidente nos ambientes corporativos dos grupos econômicos.
Desejamos que as organizações se acostumem a medir não apenas seu sucesso operacional, mas seu sucesso enquanto parte integrante de uma comunidade e de um planeta.
Thiago Itacaramby é consultor ESG e comunicador social em Cuiabá