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Produtividade no Brasil: há muito o que fazer
Hermann Marx
Uma empresa eficaz é aquela que consegue entregar ao seu mercado aquilo que o mercado exige ou mais. Quer em produto quer em serviço. Uma empresa eficiente é aquela cujas despesas sejam menores que suas receitas líquidas.
A eficácia se busca com produtos atuais e com serviços adequados e bem feitos. Porem alguns quesitos básicos da logística e do marketing devem ser atendidos: entregar o produto e /ou o serviço certo, na hora certa, no local certo e sem causar stress ao cliente.
A eficiência pode ser alcançada por aumento de vendas maior quantidade e /ou preços mais altos ou por diminuição das despesas.
O empresário sabe que num mercado competitivo apenas o desejo de aumentar preço não garante o sucesso da empresa. Por isso ele busca trabalhar o denominador desta fração, a redução de despesas. Em geral, vem como primeiro estagio a dispensa de funcionários ou alguns cortes em viagens, representações etc, que, muitas vezes são mais simbólicos que efetivos.
Menos discutida é a necessidade de ganho de produtividade.
A produtividade maior pode ser atendida por novas máquinas (também o caminho mais procurado). Porem há outras alternativas bastante interessantes, que na maior parte das vezes são menos custosas, e que, em geral, apresentam resultados melhores e mais duradouros. Podemos citar:
- Alteração de processos internos
- Integração de processos internos
- Integração de processos externos com fornecedores
- Integração de processos com mercado (clientes diretos e indiretos)
- Implantação de sistemas
- Treinamento de pessoal
- Redução de tempos mortos (sem produção)
-
Entretanto há grande dificuldade dos empresários, em geral, em enxergar ganhos de produtividade nestas alternativas porque elas não são palpáveis como uma nova máquina ou um funcionário.
Isto ocorre não por miopia do empresário mas por que o dia a dia o impede de ter um olhar diferenciado.
Só para ser ter ideia a produtividade de um funcionário americano é 10 vezes maior que a do brasileiro.
Em estudo do World Economic Forum 2014-2015 (www.weforum.org) o Brasil ocupa a 56 posição em competitividade enquanto que China 28; Russia 53; Africa do Sul 56; India 71 dentre 144 economias.
Outra análise interessante nos é apresentada pelo Conference Board. Nesta análise a produtividade dos brasileiros cresceu perto de 2% ao ano entre 2006 e 2011 enquanto que, em média, a Russia cresceu 3,4%, a India 5,9%, a China 10,4% e a Indonesia 3,1%.
Podemos definir duas produtividades:
A produtividade expansiva e a produtividade intensiva.
A produtividade expansiva é alcançada pela troca de uma atividade menos produtiva, como agricultura familiar, para outra mais produtiva como industrial. Isto é característico de um processo social migratório. Em boa parte o espetacular crescimento chinês se deu por este movimento.
A produtividade intensiva é aquela que ocorre no mesmo segmento.
Por isso a intensiva exige maior dedicação na busca de melhorias em processos.
Neste sentido consultores de empresa tem uma contribuição importante a dar na busca de melhor competitividade para cada empresa em particular e para o país, em geral. Não por acaso os países mais produtivos e mais desenvolvidos são aqueles que mais trabalham cooperativamente com consultores e com troca de informações vitais.
Dados da entidade americana de pesquisas Conference Board indicam que os funcionários de empresas brasileiras geraram em torno de US$ 10,8 por hora trabalhada. É a menor média entre os países latino americanos. Por exemplo tem-se o Chile com US$ 20,8, o México com US$ 16,8 e a Argentina com US$ 13,9 apesar de todos os seus problemas atuais.
Parece que há um longo e penoso caminho pela frente
O ganho de produtividade passa inegavelmente por melhorias que fogem ao controle das empresas, como: leis mais claras; custo menor do dinheiro; melhor infraestrutura.
Porem internamente, nas empresas, há grandes chances de ganhos não explorados.
Nossa trajetória tem mostrado entretanto que enormes ganhos de produtividade podem ser alcançados em prazos não muito longos e mesmo alguns em prazos que permitem um payback em menos de um ano.
Um exemplo:
Um grande cliente nos chamou. Precisava construir um novo deposito pois o atual havia chegado ao seu limite. Os clientes reclamavam de atrasos de entrega, mais de 30 dias para produtos em estoque ou em transito.
Ao analisarmos a situação verificamos que o problema eram os processos mal formulados, sem integração e muito desentendimento entre as áreas.
Após um ano de trabalho, com poucos gastos como leitores óticos e algumas prateleiras chegamos a reduzir o prazo de entrega para 48 horas o que permitiu faturamento acelerado no mesmo prazo. Foi reduzido o numero de funcionários da expedição de 56 para 24 e eliminadas horas extras antes necessárias para cobrir os erros e atrasos. Como resultados correlatos uma redução bastante importante de entregas com problemas e portanto cliente mais satisfeitos e aumento de vendas.
Também a linha de produção foi alterada com ganho de produtividade na própria produção, quer pela disposição de células de produção, quer pela menor movimentação dos matérias e produtos finais (revisão de layout).
No final a empresa não precisou construir novo deposito, alias sobrou espaço para novos produtos.
Também como consequência secundaria houve uma maior participação dos funcionários nos processos de melhoria. Isto permitiu que a empresa, um ano após estas mudanças, numa situação de competitividade com concorrentes chineses num determinado produto, conseguisse alcançar outras mudanças de processo produtivo, como resultado da nova cultura implantada. Com isto passou a ser mais competitiva que os chineses.
O empresário brasileiro moderno precisa encarar simultaneamente duas situações antagônicas em momentos de crise. Uma é reduzir custos imediatamente para sobreviver no curto prazo e outra é investir em novos processos para continuar vivendo no médio e longo prazo. Isto requer uma boa dose de paciência e um forte coração.
* Hermann Marx - Diretor da Prosperity Consulting