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Petrobras: Meio cheio ou meio vazio?
Celso Ming
Depois de amargar prejuízos de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre deste ano, a Petrobrás apresentou no período seguinte lucros insatisfatórios, de R$ 5,6 bilhões - 12,1% mais baixos do que no terceiro trimestre de 2011.
A diretoria tentou dar ao resultado o tratamento de "copo meio cheio", o de que os problemas vão sendo superados. Mas os analistas entendem que o desempenho da Petrobrás continua decepcionante e, por isso, preferem ver a situação como de "copo meio vazio".
A partir da recomposição da diretoria em abril deste ano, esperava-se a correção dos problemas. A presidente, Graça Foster, determinou a remoção de importantes esqueletos dos armários, especialmente o reconhecimento de 41 poços secos ou subcomerciais cujos custos foram definitivamente lançados como despesas sem retorno, não como investimento. A partir daí, Graça se pôs em campanha destinada a recuperar a confiança na empresa. Ela própria sugeria que o prejuízo do segundo trimestre havia sido um ponto fora da curva e convidava o investidor a voltar a apostar suas fichas na empresa.
Os resultados do terceiro trimestre foram medíocres por velhas e novas razões. A produção de petróleo na Bacia de Campos está em flagrante declínio. O novo diretor de produção, José Miranda Formigli, reconhece "problemas de ineficiência", embora pondere que esteja trabalhando para revertê-los.
Entre as razões da queda da produção de 4,4%, em setembro ante agosto - a pior desde abril de 2008 -, aponta para "paralisações além do previsto", que atribui a más condições meteorológicas na execução de serviços de manutenção das plataformas P-53 e P-57 - como se imponderáveis tivessem de ser desconsiderados das equações de governança.
Além dos aumentos de custos, o diretor Financeiro, Almir Barbassa, admitiu ontem que a empresa não está conseguindo se desfazer de ativos no exterior, de US$ 14,8 bilhões, operação que se destina a recompor a capacidade de investimento. Aparentemente, os eventuais pretendentes identificaram as fragilidades da Petrobrás e preferem esperar até que as premências de caixa se encarreguem de colocar as prendas na bacia das almas. Desse modo, os desinvestimentos que deveriam concentrar-se em 2012 agora vão sendo postergados para até o final de 2014.
Entre os principais causadores dos problemas de caixa está o desalinhamento dos preços ao consumidor em relação aos praticados no mercado internacional. Como não consegue processar aqui todo o volume de combustíveis, a Petrobrás se vê obrigada a vender parte deles no mercado interno a preços mais baixos do que os que paga aos fornecedores externos.
Em junho, a diretoria condicionou o cumprimento do programa de investimentos de US$ 236,5 bilhões em 4 anos ao reajuste de pelo menos 15% dos preços internos. Os últimos repasses, de 7,83% (para a gasolina) e de 6,00% (para o diesel), entre junho e julho, apenas com redução de impostos, não mudaram significativamente as coisas. O governo Dilma pratica em relação aos combustíveis a mesma política populista da presidente da Argentina, Cristina Kirchner: comprime os preços à custa da capacidade de investimento da Petrobrás.
O maior problema não é sequer o adiamento dos reajustes. É a falta de critérios para definição dos preços. Eles são ou não são o que der na telha de quem ocupa o cargo de ministro da Fazenda.