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O Pró-Café de Mato Grosso
Suelme Fernandes
Entre as décadas de 80 e 90, Mato Grosso já foi um dia um dos maiores produtores de café do Brasil, muitos colonizadores vieram para o Estado já com a cultura desta planta (na cabeça) direto do Paraná, Espírito Santo e Minas Gerais. Com destaque na produção para Alta Floresta que já foi considerada a capital do café, tendo quase 70% de sua área plantada de café.
Como a variedade genética do café era muito antiga e quase sempre trazida nas malas dos colonos, com o tempo, a praga da ferrugem, a falta de tecnologia e os preços pouco competitivos fez com que essa atividade fosse aos poucos declinando no Estado. Mesmo assim segundo o IBGE, Mato Grosso possui 20 mil hectares de área plantada de café, distribuídos de forma mais expressiva em 11 municípios, quase todos no norte e noroeste do Estado, sendo eles exclusivamente produzidos pela agricultura familiar.
Há 10 anos a Embrapa de Rondônia desenvolve pesquisas e transferências de tecnologias no café, culminando na criação de um material muito eficiente denominado BRS Ouro Preto, planta moderna do tipo Conilon da Amazônia, que é resistente a 70% das pragas convencionais do café, tolera a falta de água na seca e com uma produção 10 vezes maior que o café convencional, chamado popularmente de “café matão”.
Em Nova Bandeirantes no norte mato-grossense, a produção por hectare média é de 12 sacas, enquanto o BRS de Rondônia chega de 70, 90 e até 120 sacas por hectare com irrigação, contribuindo com benefícios ambientais. Digo isso, pois a revitalização no estado rondoniense fez com que a área plantada de café, diminuísse de 150 mil hectares para 90 mil e a produção saltou de 1.2 milhões de sacas em 2000 para 2,2 milhões no ano de 2017.
A cafeicultura é um exemplo de que o desafio da agricultura comercial em se ter tecnologia é o mesmo da agricultura familiar, para resistir a oscilação de preços e a competitividade do mercado nos dias atuais.
Por determinação do governador Pedro Taques, estamos revitalizando a cultura cafeeira por meio de um parceria da Seaf, Embrapa e Empaer, com o programa Pró Café lançado em 2015. O programa oferece um kit tecnológico que compreende as mudas clonais, calcário, adubo, assistência técnica, com capacitações dos técnicos da Empaer e das prefeituras.
Em dois anos, serão mais de R$ 2 milhões de investimentos nesta cadeia que resume na implantação de 500 mil mudas de café clonal BRS Ouro Preto, distribuídos nas 500 Unidades de Referência Tecnológica de um hectare cada, que são as propriedades de pequenos produtores selecionados pela Empaer em 10 munícipios: Cotriguaçu, Nova Bandeirantes, Nova Monte Verde, Rondolândia, Juína, Colniza, Aripuanã, Carlinda, Alta Floresta, Tangará da Serra. Neste ano, entrarão no programa: Novo Horizonte do Norte, Juruena e Apiacás.
Quando estas unidades tiverem seus dias de campo e as capacitações, em 2019 quando os cafezais derem suas primeiras safras, será um “boom” na atividade da cafeicultura no estado, gerando emprego e renda e dinamizando os municípios do noroeste.
Uma saca de café fechou sua cotação por volta de R$ 500 semana passada, e em comparação com a saca de soja que fechou em R$ 53, vimos a alta lucratividade do negócio. O café salvou a economia de Rondônia que espera no fim do ano colher 3 milhões de sacas, sendo o café o principal ativo de arrecadação de ICMS no Estado.
Conheci um produtor em Rondolândia que me disse um dia, “Quem toma café ou planta, fica viciado do mesmo jeito, por isso que nunca abandonei meu café” e parodiando, nem nós abandonaremos!
*Suelme Fernandes é professor, mestre e, atualmente, está como secretário de Estado de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários de Mato Grosso.