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O pior cenário para 2013
Otávio Celidonio*
O clima é o fator que geralmente diferencia positivamente Mato Grosso de outras regiões produtoras de grãos no Brasil e no mundo. Porém 2013 é um daqueles anos que fogem à regra.
A princípio, as primeiras chuvas da segunda quinzena de setembro, trouxeram boas perspectivas, mas logo no início de outubro, quando as máquinas começariam a trabalhar pra valer, as águas cessaram impedindo a realização plena dos planos dos produtores.
Esse atraso reduziu em 4% a área potencial de plantio de milho segunda safra, já que a produção deste cereal ocorre sobre a área de soja que consegue ser plantada até o dia 20 de outubro.
Os transtornos não acabaram aí... Para cumprir os planos de produção de segunda safra é necessário colher a soja até o dia 20 de fevereiro e esta tarefa tem se mostrado mais difícil e tensa do que a do plantio.
Dessa vez, ao invés da falta, o excesso de chuvas tem dificultado os trabalhos nas lavouras, fazendo com que a soja que está pronta para ser colhida apodreça nos campos, literalmente.
O atraso da colheita da soja pode ser comprovado pelos números. Até o dia 8 de fevereiro, por exemplo, Mato Grosso registrou apenas 17% de área colhida, uma diferença de mais de 7 pontos percentuais de desvantagem em relação à safra 11/12.
Mas o pior vem dos relatos dos produtores, que apontam perdas de rendimento acima dos 10% até o momento. Em casos extremos, as perdas relatadas foram tão severas que houve abandono das áreas, restando ao produtor apenas o trabalho de gradear e plantar a cultura de segunda safra.
Aliada à alta de 15% dos custos da safra 12/13, as frustrações climáticas começam a afetar não só os planos, mas a saúde financeira dos produtores, principalmente em regiões onde a área potencial de plantio da segunda safra é maior e a colheita deveria começar mais cedo.
Com uma margem média esperada de 11 sacas por hectare, aqueles que tiveram perdas acima de 20% no rendimento total certamente irão padecer, perdendo a capacidade de reinvestir ou até de cumprir com contratos firmados anteriormente.
Mesmo com tais contratempos, os preços do mercado não tendem a reagir positivamente neste cenário. Isto porque o volume da safra ainda deve ser recorde, já que as perdas relatadas estão mais ligadas à qualidade do produto e não necessariamente à produtividade das lavouras.
Apesar disso, as empresas compradoras (tradings) têm condições de misturar o produto ruim com outro de boa qualidade, honrando os contratos de exportação sem sofrer maiores descontos por falta de qualidade.
Essa constatação nos remete à metodologia adotada por essas empresas no momento de calcular os descontos ao produtor. O método usado é obscuro e não dá margem de negociação.
Por isso, o produtor tem à sua frente, talvez, o pior cenário que poderia projetar para este ano, com perdas de rendimento e sem perspectiva de aumento de preços para a venda do que ainda lhe sobrou.
Resta torcer para que tais frustrações não desanimem o produtor e não contribuam para diminuir o potencial de plantio do milho e algodão segunda safra nos anos que ainda virão.
*Otávio Celidonio é engenheiro agrônomo e superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) - otavio@imea.com.br