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Na Copa da Soja somos vice
Glauber Silveira
Se o Brasil é reconhecido mundialmente no futebol, já conseguiu 5 títulos mundiais e com certeza irá caminhar para levar a taça da Copa do Mundo 2014, no quesito produção de soja o cenário anda bem diferente - no “pódio de produtividade” continuamos perdendo para os Estados Unidos (EUA). Há duas safras estamos concorrendo com os produtores norte-americanos o título de maiores produtores de soja do mundo, a cada ano vemos anunciado: o Brasil deve ser o maior produtor mundial de soja. Mas infelizmente ao concluir a colheita vem a nós a frustração do segundo lugar, a vice-colocação, na produção da proteína vegetal mais importante do mundo. E, pelo que tudo indica nesta próxima safra já temos o nosso segundo lugar reservado novamente.
O mundo deve produzir quase 300 milhões de toneladas de soja para a safra 2014/15, na safra anterior foram 283,8 milhões de toneladas, segundo o USDA (Departamento de Agricultura Norte-americano). Na safra 12/13 os EUA produziram 82,1 milhões de toneladas, enquanto o Brasil produziu 82,00 milhões de toneladas, na safra 13/14 os EUA produziram 89,5 milhões de toneladas e o Brasil 87,5, mas tínhamos uma previsão de produzir mais que 90 milhões. Se na safra passada tivéssemos tido a mesma média de 2010/11 teríamos produzido 92 milhões de toneladas e já teríamos sido o maior produtor mundial de soja.
Não que ser o maior produtor mundial seja fundamental ao Brasil, o que realmente me preocupa são os fatores, nos quais a cada safra indicam que teremos uma produção recorde, mas no final terminamos com 5 a 6 milhões de toneladas a menos. Para a safra 2014/15 já se estima uma produção dos EUA bem maior que a nossa, claro que houve um incremento de área significativo. Os números do USDA apontam uma safra de 98,9 milhões de toneladas nos EUA contra 91 milhões no Brasil, lembrando que se estivéssemos tendo avanços em produtividade à previsão brasileira seria de 100 milhões de toneladas.
A área brasileira de soja deve crescer, mas bem abaixo do crescimento de anos anteriores, com isto devemos ficar com uma área em torno de 30 milhões de hectares. O estado de Mato Grosso que sempre vinha puxando o crescimento de área brasileira deve crescer em torno de 350 mil ha, segundo dados do IMEA. De acordo com o Instituto, o crescimento deve ocorrer em pastagens, aí fica o questionamento: porque não expandiremos mais em áreas de pastagens, já que temos milhões de hectares aptos à produção de soja, milho, algodão etc.?
Respondo esta pergunta com alguns dados alarmantes. No Brasil, o potencial de crescimento e produção de soja é alto, mas a nossa realidade tem impedido que o país ocupasse o primeiro o pódio no quesito produção de soja. Temos tido problemas com produtividade, nas últimas safras em vez de aumentarmos nossa média nacional, estamos perdendo produtividade. Em 2010/11 a média brasileira foi de 3.115 kg/ha, mas nas safras seguinte a média sempre foi abaixo de 3.000 kg/ha. Esse cenário é preocupante, pois já deveríamos estar com uma média nacional acima de 3.400 kg/ha e daí eu pergunto: o que tem nos impedido de crescer?
A pesquisa brasileira tem sofrido muito com a falta de recursos e com isto não conseguimos avanços em problemas que têm roubado nossa produtividade, como pragas e doenças. A ferrugem da soja, nematoides e pragas como helicoverpa já tiraram bilhões de reais em produtividade dos produtores. Geralmente, o que vemos são muitas pessoas (seja produtor ou especialistas) colocarem a culpa no clima, mas o real vilão é a falta de política pública. A ausência de recurso direto na pesquisa voltada a produção traz perdas para todos nós produtores e também para a economia do país, que deixa de crescer.
Outro ponto que tem impedido nosso avanço em produtividade tem sido a falta da liberação de produtos de defesa sanitárias mais eficientes. Os produtos disponíveis no mercado, pela falta de novas moléculas para a rotação tem exigido cada vez um número maior de aplicações, o que tem inviabilizado o custo de produção, tirando toda a renda do produtor. E o pior é que além de não termos novos produtos de defesa querem nos tirar o que nos resta para produzir.
Estamos em um momento crítico da produção brasileira: alto custo, insegurança jurídica, falta de logística e etc. E, mais uma vez estamos caminhando para uma safra em que os custos estão formados, os mais altos da nossa história. A produtividade a cada ano caindo e preços apertados, fazendo os produtores perderem de 2 a 5 dólares a saca de soja produzida, por conta da ineficiência logística. Mas, como sou otimista espero que em breve sejamos os maiores produtores, com a maior produtividade e pelo menos com uma rentabilidade justa. E enquanto esse “dia” não chega, continuamos a caminhada, melhor dizendo continuamos produzindo!
*Glauber Silveira é presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja e produtor rural em Campos de Júlio-MT.