Fora os incalculáveis danos materiais e as vidas de soldados e civis ceifadas até agora, além de todos os impactos negativos que a guerra deflagrada no Leste Europeu já está provocando, com a invasão da Ucrânia pela Rússia no mês passado, essa tragédia requer análises também do ponto de vista de cada um dos setores da economia mundial, onde já se vê a necessidade de soluções alternativas, por exemplo, ao fertilizante russo, assim como ao gás e ao petróleo.
Com a guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia em fevereiro, como era de se esperar, houve a suspensão das vendas de fertilizantes para o agronegócio brasileiro, por todas as razões óbvias de um conflito bélico daquela envergadura, agravado pelo fato de que o escoamento foi proibido pela Lituânia, que fechou suas fronteiras. Isso já está provocando grande apreensão nos produtores brasileiros de grãos, porque é inevitável que a oferta diminua e o preço dispare, encarecendo ainda mais os fertilizantes, que ficaram 155% mais caros nas duas últimas safras.
Fora os incalculáveis danos materiais e as vidas de soldados e civis ceifadas até agora, além de todos os impactos negativos que a guerra deflagrada no Leste Europeu já está provocando, com a invasão da Ucrânia pela Rússia no mês passado, essa tragédia requer análises também do ponto de vista de cada um dos setores da economia mundial, onde já se vê a necessidade de soluções alternativas, por exemplo, ao fertilizante russo, assim como ao gás e ao petróleo.
Sem entrar nos motivos que levaram a essa devastadora conflagração bélica, a guerra no Leste Europeu resultará em impactos negativos em todo o mundo, atingindo direta e indiretamente vários setores, caso inclusive da agricultura. No entanto, uma análise mais detalhada da situação pode nos levar a concluir que o conflito trará, também, oportunidades para o agronegócio, se considerarmos a adoção de novas soluções tecnológicas, com incremento na produção de biofertilizantes, bioinsumos, produtos biológicos e fitoquímicos, assim como na geração de energia limpa e renovável, onde se destaca a fotovoltaica.
As tecnologias já existem, os processos são conhecidos e, em muitos casos, há vários modelos em funcionamento, com ótimos resultados. Em se tratando de biocombustíveis, as usinas de etanol de milho, que também passaram a produzir biocombustível de alta qualidade e desempenho, elas já deveriam ter tomado novos espaços, especialmente no estado de Mato Grosso, se não tivesse ocorrido a pandemia e a desaceleração da economia. Pelo menos 12 plantas estavam projetadas no Centro-Oeste, que se somariam às instaladas anos atrás, como a Inpasa Bioenergia, em Sinop, e a FS Bioenergia, em Lucas do Rio Verde. E não podemos deixar de mencionar que, ao contrário dos Estados Unidos, onde a fonte de energia dessas usinas é predominantemente gás natural e carvão, as usinas brasileiras utilizam biomassa de madeira proveniente de florestas plantadas.
Tais usinas seriam a via mais rápida para solucionar, também, a questão do uso de combustíveis fósseis, provenientes do petróleo, mercado liderado pela Rússia e pelos países do Oriente Médio. E podemos afirmar que, em breve, os biocombustíveis, como o etanol proveniente do milho ou da cana-de-açúcar, dividirão seu espaço com os carros elétricos, que já podem ser vistos em nossas ruas e rodovias.
Voltando à questão dos fertilizantes, cuja dependência externa do Brasil é imensa e ultrapassa os 75% do que é consumido pela nossa agricultura, temos que analisar, por exemplo, que o potássio da Bielorus, antiga Bielorússia, que representa 20% do mercado brasileiro, é agora impossível de ser entregue. Isso é m fato. Consequentemente, o Brasil ficará privado de grande volume de fertilizantes para soja, milho e café, o que deverá diminuir a vantagem competitiva dos nossos produtos agrícolas nos mercados mundiais.
A União Europeia já deixou claro que a Europa - e os Estados Unidos também desejam a mesma coisa - quer se livrar da dependência de óleo e gás da Rússia e do Oriente Médio. A aposta são os combustíveis renováveis, inclusive com incentivos para reduzir a pegada de carbono e para atender questões ambientais. Nesse sentido, a Noruega passa a ser uma opção ao gás russo para a Europa. Já no caso Brasil e sua dependência do fertilizante russo, o país pode – e até deve - investir mais na produção própria de fertilizantes, aproveitando-se, por exemplo, da matéria orgânica proveniente de dejetos animais, sabidamente de alto poder de fertilização, além de incrementar a exploração de minas de potássio e de outros adubos encontrados no território nacional, assim como incentivar o uso de produtos biológicos, bioinsumos e dos chamados fitoquímicos, compostos químicos produzidos pelas plantas, que ajudam a resistir a infecções por fungos, bactérias e vírus de plantas, e também ao consumo por insetos e outros animais.
Enquanto temos o melhor desempenho possível na produção de grãos, com grande produtividade em resultado da tecnologia de precisão e das melhores práticas de manejo, como nação produtora de alimentos, precisamos avançar para a próxima fase de crescimento no setor produtivo, processo que inevitavelmente deve passar pela agroindustrialização. É disso que falamos quando destacamos a importância dos complexos agroindustriais para produção de etanol, de biofertilizantes, biológicos e bioinsumos. Ou seja, pega-se o insumo e se industrializa o mesmo, agregando tecnologia. Isso nos tornará menos dependentes do mercado externo e ainda mais competitivos.
Com a guerra no Leste Europeu em curso, podemos estar iniciando um período de transição para um novo ciclo tecnológico, aliando novas soluções tecnológicas às boas práticas de produção e manejo nas lavouras. Mas para que isso se concretize, precisamos nos reinventar, a partir de maiores aportes em tecnologia no agronegócio. Tanto a necessidade, como as oportunidades, estão aí, basta ter discernimento para percebe-las.
Cesar da Luz é especialista em agronegócios, diretor do Grupo Agro 10. E-mail: cesardaluz@agro10.com.br.