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Cadê as lideranças?
Otacílio Peron
Grande parte da imprensa esportiva nacional taxou o fato de Cuiabá sediar a Copa do Mundo, como um caso fora de contexto, distante da realidade de outras cidades-sedes da Copa.
E os motivos da “chacota” da imprensa, prendia-se a dois fatores: Um; pela falta de infra-estrutura e modalidade urbana, em face das obras inacabadas; e outra; pela inexistência de grandes times de futebol em nosso Estado, tendo como conseqüência futura segundo eles, uma arena sem uso, e portanto, um dinheiro mal empregado.
Tudo é quase verdade. Obras inacabadas é uma realidade, mas vão ser concluídas. Também não temos grandes e nem médios times de futebol, não porque o povo daqui não goste de futebol. Ao contrário. Qualquer time grande do Rio de Janeiro/ São Paulo, Porto Alegre ou Belo Horizonte, que venha jogar aqui, por certo lotará a Arena Pantanal. É por falta de liderança esportiva mesmo, que isto está acontecendo. Temos um Presidente da Federação de Futebol, que se eternizou no poder, está cansado, não possui mais espírito de liderança para inovar. Nada faz para melhorar o nosso futebol. Não sai da inoquia mesmice. Com esta maravilhosa arena, é o momento de renovar também na Federação de Futebol. O atual Presidente já deu a sua colaboração.
E esta falta de liderança em nosso Estado, vem se percebendo também na política. Os nomes que estão se apresentando como lideranças políticas, pasmem, são ex-funcionários públicos, que abandonaram a carreira no judiciário. Um era julgador e outro acusador, e se apresentam como lideres políticos, sem sequer terem sido lideres em suas profissões anteriores e jamais terem tido qualquer contato com a política antes.
Estão se aproveitando, espertamente, da ausência de lideranças políticas, e do momento de descontentamento nacional e local, e se apresentam com a credencial de terem desbancado a maior liderança do mal do nosso Estado.
Batem no peito com orgulho, e se auto-intitulam limpos e puros, como água cristalina, porém, como têm pressa de navegar até o topo do poder, aceitam em seu rio cristalino afluentes de águas lodosas, e quando o rio estiver em condições de navegar, não vão perceber que as águas cristalinas foram contaminadas pelos afluentes de águas impuras, e automaticamente estarão enredados, a exemplo do que aconteceu recentemente com o nosso último líder, que foi imposto pelo poderio econômico, sem ter base de liderança e tempo de maturação política. O resultado foi o seu recrudescimento prematuro.
Não temos mais uma liderança política natural, que tenha base de sustentação social e comunitária.
E as conseqüências nós acabamos de assistir. É traumático.
É hora de incentivarmos as verdadeiras lideranças comunitárias, com base de sustentação, para termos, no futuro, lideranças fortes e verdadeiras, reconhecidas pelos seus continuados atos de navegação em águas puras e cristalinas, pois, estas lideranças, forjadas nas bases, saberão desviar dos afluentes de águas turvas.
As velhas lideranças não se preocuparam em formar sucessores, e ai, forçoso é ficar nas mãos de quem chega tarde e já quer ocupar a janela.
Cadê as lideranças comerciais e industriais. Cadê as lideranças sociais.
Ultimamente surgiram duas lideranças, em que poderíamos depositar esperança; uma veio da base empresarial, mas está ziguezagueando demais, outra veio do ceio comunitário, mas tem muita pressa, já quer sentar na janela. Tem que queimar etapas.
Para ter longevidade na política, é preciso ter coerência.
Enquanto não surgirem verdadeiras lideranças, para que o Estado tenha estabilidade política, temos que permitir que os que embarcam tarde no avião, já ocupem as janelas.
É preciso refletir sobre essa realidade.
*Otacílio Peron é advogado em Cuiabá-MT