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A hora da retomada

Roberto Hollanda Filho

A década de 2000 testemunhou um impressionante avanço do setor sucroenergético no Brasil. Embalado pelos bons fundamentos de mercado, sobretudo para o etanol, o setor cresceu a uma média de 10% ao ano até a safra 2008/2009.

O Mato Grosso do Sul soube aproveitar esse momento. Nosso setor, que havia levado quase trinta anos para atingir a marca de 10 milhões de toneladas, viu sua produção triplicar a partir de 2005. É justo dizer que não foram as nossas boas terras que levaram a isso. Tivemos e temos ambiente. Um governo estadual que entendeu a industrialização como vetor de desenvolvimento para o Estado, uma classe de produtores rurais tecnificada e empreendedora que viu na cana-de-açúcar uma oportunidade de diversificação. E, claro, uma FIEMS que tem sido fundamental no apoio à qualificação, evitando um “apagão” de colaboradores, uma necessidade premente no nosso setor.

E aí veio um problema. A crise econômica de 2008 afetou diretamente a oferta de recursos e indiretamente o preço das commodities, sacrificando assim os tratos culturais, renovação de canaviais e sobretudo a implementação de novos projetos. Em seguida, três safras consecutivas com problemas climáticos, entre outros que afetaram ainda mais a produção. O resultado disso é que o crescimento não só arrefeceu como, na safra passada houve involução do canavial, o que não ocorria desde 1999. Aqui no MS, ainda crescemos algo, fruto da inércia desse movimento de crescimento que começou cinco anos depois do resto do Brasil.

E hoje o País vive uma situação difícil de entender. No caso do etanol, temos um mercado potencial que cresce em um ritmo inédito. E ainda assim a participação do nosso combustível renovável - que já foi de 50% desse mercado - caiu a 36% nesse universo ainda maior. Ainda no etanol, os Estados Unidos abriram uma avenida de mercado para o produto brasileiro, à medida que o reconheceram como mais eficiente que o de milho no que tange a questões ambientais e eliminaram as tarifas de importação.

A bioeletricidade é outro produto que tem um mercado ávido. Podemos dar a resposta que o Brasil precisa de forma mais rápida, mais barata e mais eficiente, já que as unidades produtoras ficam mais próximas dos grandes centros de consumo, reduzindo de forma significativa os custos de transmissão. São três Belo Monte’s adormecidas nos canaviais. E novamente o MS é um exemplo disso, com um parque moderno, já exportamos para o Sistema Interligado Nacional quase o equivalente a todo o consumo residencial de todo o Estado.

O açúcar, uma commodity consolidada que permite às unidades planejamentos de longo prazo é outro produto que tem uma grande importância para o setor e para o Brasil, pelo importante papel que desempenha na nossa balança comercial (foi o segundo lugar na balança do MS no ano passado). E frequentemente tem sido vilanizado, por conta de uma visão distorcida de que que é por conta do aumento de sua produção que se fabrica menos etanol. Na verdade, a possibilidade de escolha das unidades com relação à mix de produção não é tão grande assim, podendo variar menos de 10%.

Ponto pacífico que os nossos mercados estão em expansão e/ou não atendidos , existe área? Sim, e muita. Só no Mato Grosso do Sul existem 8 milhões de hectares em pastagens sub-aproveitadas. Isso é pouco menos de toda a área de cana do Brasil. E essa oferta de terras se repete em outros estados. O mais importante disso é que existe potencial não só para a cana, mas para que outras culturas cresçam também. Nada de monocultura ou de prevalecência de uma atividade sobre outras.

Finalmente, o impasse. Dentro de um contexto tão favorável para o crescimento dessa atividade que traz desenvolvimento descentralizado, com municípios do interior vicejando de desenvolvimento. Que melhora o ambiente, no campo e nas cidades, que coloca o Brasil num posto de destaque no que tange às ditas economias verdes, nada tem ocorrido.

Para converter em realidade todo esse potencial seriam necessárias 120 novas unidades no Brasil até 2020. Só duas serão inauguradas na safra 2012/2013, por sinal aqui no MS.

A resposta para essa questão passa pela competitividade do nosso etanol. Como atrair investimentos pesados como são os requeridos pela nossa indústria num contexto em que o nosso principal concorrente, a gasolina, tem preços artificialmente mantidos abaixo do seu custo ?

E faço um ressalto, o setor sucroenergético não advoga pelo aumento da gasolina, só pede que tenha tratamento semelhante. E não pede de graça. Oferece em troca investimento e desenvolvimento.

Claro que temos sempre que olhar para dentro. E temos desafios importante no que tange à incorporação de novas tecnologias e aumento do investimento em pesquisa para aumentar essa competitividade. Já somos um exemplo disso e continuaremos sendo, cada vez mais.

Ainda no que tange ao que não nos cabe decidir ou resolver, é importante a implementação de políticas públicas de longo prazo, que definam o papel do etanol em nossa matriz energética.

Estamos em um bom caminho. O governo federal mostrou sensibilidade ao problema e estabeleceu um canal de discussão com o setor, que tem levado suas propostas para o devido debate.

Vivemos, enfim, um momento fundamental na história do setor sucroenergético brasileiro.
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