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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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A agricultura é do Brasil, não das multinacionais

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O agronegócio já é o setor onde o Brasil detém sua maior vantagem comparativa (água doce; clima ameno com chuvas regulares; sol e calor; terras abundantes e baratas; abundância anterior de terras dedicadas à pecuária extensiva e hoje mais aproveitadas para agricultura intensiva, graças aos confinamentos e produção de rações, o que evita o desmatamento de florestas e áreas virgens; elevado potencial para irrigação e para energia solar e eólica; mão-de-obra abundante, barata e treinável; know how; capacidade empresarial etc.). Com a construção e a expansão das ferrovias brasileiras, sobretudo em direção ao Peru e portos do Norte/Nordeste, o custo do frete para o agronegócio, principalmente, do Centro-Oeste, deverá cair, aumentando ainda mais a competitividade dos setores.

Contudo, precisamos ter imenso cuidado ao bem avaliarmos e separarmos o que seja a agricultura do que seja o agronegocio. Fato é que nossos agricultores estão ficando, cada vez mais, com migalhas e altos riscos, enquanto as tradings e oligopolios se apossam crescentemente, e quase livremente, do nosso agronegócio e com altíssimos resultados e sem riscos.

Afinal a Agricultura é ou não brasileira?

O que o País necessita é transformar o agronegócio em foco da política econômica, evitando que toda a cadeia produtiva do setor caia nas mãos de companhias estrangeiras ou mesmo oligopólios nacionais e internacionais, o que está criando uma perigosa dependência do Brasil em relação aos oligopólios privados estrangeiros.

Após a privatização da Petrofértil, em 1994, o segmento de adubos passou a ser controlado por um oligopólio privado, composto por três trading companies multinacionais: Hydro/Yara (Norueguês), Bunge/Fosfértil (holandesa) e Cargill/Mosaic (americana). Essas empresas, que juntas passaram a dominar 90% do fornecimento de adubos e fertilizantes, chegaram a aumentar seus preços em 100% ao ano, mesmo quando a inflação variava entre 4% e 5%, espoliando o agricultor brasileiro. O grupo capixaba Heringer é a última grande empresa brasileira, que, heroicamente, sobrevive no setor.

Após a privatização das ferrovias e portos, na década de 90, as trading companies multinacionais Bunge (holandesa), Cargill (americana), ADM (americana) e LCD - Louis Dreyfus (francesa), passaram a dominar a logística de transporte e exportação das principais commodities brasileiras. Com esse oligopólio, mesmo o produtor rural que possua terras próximas a ferrovias, é obrigado a vender ou trocar sua produção para uma daquelas trading companies.

Em agosto de 2012, a última grande empresa brasileira de ração animal, a Tortuga, foi vendida para um grupo multinacional holandês. Nesse segmento, o oligopólio é formado pelas empresas multinacionais Provini (holandesa), Nutreco (holandesa), Evialis (francesa) e Cargill (americana).

Hoje, apesar de o Brasil ter superado os EUA na exportação de soja em 2012, possuímos, apenas, duas fábricas de tratores nacionais, a Agrale (gaúcha) e a Montana (mineira), sendo que a maioria absoluta do segmento é dominado por grandes empresas multinacionais como Massey Ferguson, Carterpillar, Ford e John Deere (americanas); Valmet (Estatal Finlandesa), New Holland e Fiat (italianas), etc..

Na área de biotecnologia, a EMBRAPA sobrevive ainda, apesar da total falta de recursos para suas pesquisas, que, muitas vezes, são financiadas por empresas multinacionais, que acabam ficando com as patentes resultantes de suas inovações.

Os defensivos agrícolas são dominados pela Bayer e Basf (alemãs), Syngenta (suíça) e Dupont (americana), que, juntas, também formam um oligopólio privado de multinacionais.

A Monsanto, a Dow e a Pioneer (americanas), juntamente com a Bayer (alemã) e a Syngenta (suíça) dominam o segmento pesquisa e fornecimento de sementes dentro do agronegócio brasileiro.

Na distribuição final de alimentos, a maioria também já é multinacional, ou está comprando alguma nacional, como o WalMart, Carrefour, Casino-Pão-de-Açucar; Cencosud, McDonalds, Burger King dentre outros.

Nada obstante o esforço heroico da Petrobrás Biocombustíveis, a presença de multinacionais do setor energético (BP inglesa,SHELL/Cosan holandesa etc.) e agropecuário (ADM e Cargill americanas, Dreyfus francesa, Bunge holandesa etc.) na produção de etanol e biodiesel vêm crescendo, rapidamente, através da compra de empresas brasileiras, que se encontram endividadas e sem crédito com o Banco do Brasil e BNDES. Contudo, a Petrobrás não pode fazer muito mais pelo agronegócio, pois quase todo o seu esforço de investimento está voltado para o Pré-Sal. Caberia ao Conglomerado Banco do Brasil propor uma associação com a Petroalbrás Biocombustíveis, a fim de evitar a desnacionalização da produção de etanol.

Nossa grande esperança seriam as Cooperativas, pois nos EUA e Europa são elas – não as tradings - o baluarte do agronegocio, do desenvolvimento rural sustentado e da garantia de renda agrícola suficiente e continuada. Para se ter uma idéia, somente nos EUA 80% dos produtores rurais têm algum tipo de Seguro de Renda dos 9 diferentes tipos já oferecidos; no Canadá são 6 tipos diferentes e no Brasil sequer o assunto pode ser debatido, sem que um grande banco nacional – estatal ou privado – ou uma re-seguradora ou seguradora internacional, ou nacional disfarçada, queira impor seu Modelo para muito lucrar. Com isto, ainda estamos na mão de Seguros de Produção ultrapassados ou do decadente PROAGRO que foi feito para proteger os Bancos e não os agricultores. Nesta recente crise agrícola dos EUA por fatores climáticos (no acumulado, perdas de 100 milhões de t de milho mais 20 milhões de soja), sabe-se que os agricultores, realmente, nada tiveram de prejuízos, pois as perdas totais estimadas em US$ 32,0 bilhões e de todos os produtos agrícolas, foram em US$ 14,0 bilhões cobertas pelo seguro catástrofe governamental e cerca de US$ 18,0 bilhões pelas re-seguradoras e seguradoras de Renda (absolutamente normal nas democracias capitalistas).

Aqui, sequer a área agrícola da BMF-BOVESPA consegue deslanchar para proteger os agricultores nacionais, havendo baixíssima liquidez dos papeis agrícolas e ao que parece intencional, pois as tradings, multis e até alguns oligopólios nacionais sempre fazem suas proteções de preços (hedge) e de renda mínima apenas nas riquíssimas bolsas dos EUA (dever-se-ia coibir totalmente isto e multar pesadamente).

Todo país importante economicamente trata seu agronegócio (alimentos e bioenergia) como estratégico. Prova disso é o fato de que todas as principais nações capitalistas possuem um banco agrícola estatal ou cooperativo, para apoiar o setor. Assim, a China possui o Agricultural Bank of China; o Japão possui o Nochurinbank; os EUA possui o NCU; o Canadá possui o Desjardin; a Alemanha possui o DZ Bank; a França possui o Credit Agricole; a Holanda possui o Rabobank etc..

Curiosamente, todos estes bancos cooperativos são ávidos por realizarem parcerias para investimentos, para concessão de créditos e para negócios de importação/exportações com as cooperativas brasileiras, mas a nossa ultrapassada e antiquada legislação cooperativa atual praticamente impede isto. Afinal, parece que poucos querem perder seu “statuos quo” diretivo e realmente trabalhar para o bem de todos. Que o diga o renomado, sério e nacionalista professor Sigismundo bialoskorski da FEARP-USP, mas hoje quase que no ostracismo e expulso, pelo dito, por certo ex-ministro cooperativo, exatamente por defender muitas mudanças imediatas e favoráveis aos cooperados, principalmente os pequenos.

Sem duvidas, há poucas, grandes, boas e sérias cooperativas de resultados e já voltadas para negócios no sul do País, mas, até hoje, infelizmente, muitos balanços de muitas cooperativas menores ainda são aprovados em assembléias marcadas na cidade para sábados às 10:00 h e, em geral, na 3ª convocação e com a presença de poucos associados decisivos, boa parte suspeita-se até parentes dos dirigentes ou do mesmo partido político. Idem das eleições dos dirigentes. Quase nenhum Pais moderno do Mundo adota mais a antiga tese de “01 homem = 01 voto”, substituindo-a por “01 ato cooperativo de compra ou de venda (no valor de R$ 1 mil/ano, por exemplo)= 01 voto”. Pode até parecer anti-democrático e contra os pequenos, mas realmente prioriza a fidelização negocial cooperativa e possibilita o pleno desenvolvimento da cooperativa, exatamente para favorecer os mais fracos e que, por sua vez, podem se unir em grupos de compra e de venda, quando necessário. Ao não poderem dar lucros, a atual lei cooperativa só penaliza ainda mais a sua boa gestão e a fidelização de seus associados, ao tempo que muito amplia o risco para todos.

O Brasil, curiosamente uma das maiores potências agrícolas do Planeta, já teve um banco totalmente agrícola e com excelente atuação proativa e atendimento agrícola impecável e rápido – verdadeira solução agronegocial - o Banco do Brasil. Contudo, desde que teve início seu processo de Bradescalização (sem deméritos ao grande e importante banco privado) a fim de transformá-lo em mais um banco de varejo privado nacional e sem qualquer papel definido dentro da economia nacional, para que pudesse ser privatizado durante a gestão, pelo dito, do Presidente Paulo Ximenes em 1996 (como o Governo FHC pretendia e revelou-se de publico algumas vezes), o agronegócio deixou de contar com um dos lados mais estratégicos da economia, isto é, com a parceria de uma instituição financeira pública federal.

Infelizmente, o Banco do Brasil continuou a aprofundar sua “Bradescalização”, mas o modelo “Bradesco” não é o único existente e a ser seguido. Na verdade, para alguns críticos desenvolvimentistas, a maioria dos bancos privados e estatais nacionais ainda têm uma superada estrutura Fordista, cujas características gerais são:

1) Estrutura piramidal e com vários níveis hierárquicos. Não há ascensão horizontal ou quadro de carreira, onde o trabalhador sobe com o tempo de serviço (experiência) e com estudo e aperfeiçoamento (conhecimento científico);

2) Foco na produção em massa e de baixa qualidade. O foco não está na inovação e na agregação de valor ao produto. A alta cúpula do Banco pensa e o funcionário “meio que alienado” executa. Não se aproveita o capital intelectual da mão de obra;

3) Visão de curto prazo, isto é, empurrar o máximo de “negocios/porc..” para o cliente (CDC eletrodomésticos, CDC construção, CDC turismo, CDC consignado, título de capitalização, cartão de crédito de diversas placas - e não importando se esses são geradores de “mensalão” etc.. -, seguro de vida, seguro saúde, seguro de automóveis etc.), sem se importar com suas reais necessidades. O objetivo principal é ter-se o máximo de lucro em curto prazo e a qualquer custo. Não há uma preocupação em formar uma parceria de longo prazo com o consumidor/cliente e muito menos em desenvolver o País, em especial suas regiões mais pobres;

4) Produção por peça e que nos bancos nacionais significa impor metas intangíveis de vendas de produtos aos funcionários, o que leva a bem mais stress, suicídios, alcoolismo, drogas, desajustes familiares, maiores custos sociais governamentais e com saúde publica;

5) Controle baseado na coerção (o funcionário que não cumprir as metas, pode perder a comissão) e não na motivação (funcionários sócios da empresa e participando de sua administração; clientes com suas necessidades atendidas; produtos de alta qualidade e inovadores etc.);

6) Trabalhadores alienados da produção, isto é, não pensam e só executam. Pensar é tarefa, apenas, da alta cúpula da empresa.

Falando nisto, alguém se perguntou qual a punição que caberá aos Bancos e a tal Cartão de Credito após finalizar-se o julgamento e as condenações do “Mensalão?” Será que apenas alguns diretores serão condenados (tipo boi-de-piranha) e as instituições continuarão operando da mesma forma e como se nada tivesse ocorrido no País e através delas, ou seja, até estimulando novos futuros desvios? O que ocorreria com tais empresas se ocorresse o mesmo nos EUA ou na China?

Estamos vivendo, hoje, na economia, um momento de transição do padrão de produção Fordista para o padrão de produção Toyotista ou Microeletrônico. As formas de produção, acumulação, organização empresarial, relação com a mão de obra etc. em todos os setores (indústria, agricultura e serviços) estão mudando rapidamente. A transição do Paradigma Fordista para o Paradigma Toyotista ocorre, devido à mudança da base tecnológica da produção, mas exige mudanças políticas e sociológicas também.

O contraponto aos bancos nacionais é o Rabobank, sem nenhuma propaganda, mas de forma apenas analítica. O modelo de negócios Toyotista do Rabobank, banco cooperativo holandês e um dos maiores e mais eficientes bancos internacionais especializados em agronegócios, vem provar duas coisas: em primeiro lugar, que é possível ter muito lucro com o agronegócio. Em segundo lugar prova, que a visão de longo prazo e de parceria com o produtor rural é muito mais eficiente e lucrativa, que a visão de curto prazo do modelo Bradesco.

No site do Rabobank (considerado o melhor banco do mundo pelas três principais agências de rating Fitch, Sandard & Poors e Moody’s) é possível ler: O Rabobank é um dos maiores fornecedores mundiais de serviços financeiros para a indústria de alimento e agronegócio. Como uma cooperativa, o Grupo Rabobank é dedicado a servir aos seus clientes. Nossa missão é criar valor para os clientes, funcionários e a comunidade através de um relacionamento de longo prazo.

Reforçar as empresas brasileiras do agronegócio, de forma a dominar toda sua cadeia produtiva e não apenas a produção de grãos é uma tarefa estratégica num país cuja maior vantagem comparativa está nesse setor. Esse papel poderia voltar a ser exercido pelo Conglomerado Banco Prof.do Brasil (Banco Comercial, Banco de Investimentos, BBDTVM, PREVI etc.), que, com sua estrutura de banco de varejo rural e com o know how acumulado em sua Vice-Presidência de Agronegócios e em sua Vice-Presidência Internacional, reúne as condições para voltar a ser o parceiro de longo prazo do produtor rural, assim como das pequenas e médias empresas.

Pode parecer até como critica direta e não-construtiva ao maior banco do País, mas nosso Pais conta e precisa mesmo é de um Banco do Brasil muito mais forte, nunca envolvido com “mensalões” vergonhosos, realmente nacional e em prol, realmente e não apenas no discurso, das pequenas empresas, da agricultura familiar – inclusive criando para eles um seguro de renda agrícola próprio, especial e se necessário subsidiado em parceria com os Governos - e do desenvolvimento rural sustentado e das pequenas cidades, pois para bem atuar no segmento varejista bancário mais financiamentos de automóveis, de casas etc.., já temos bons bancos exemplares privados como Bradesco e Itaú, também altamente geradores de emprego e de desenvolvimento urbano. O Conglomerado BB, “opino construtivamente”, precisa focar muito mais nos seus negócios prioritários e para os quais está historicamente bem preparado e parar de tentar entrar em segmentos onde não tem expertise, não é bem vindo e nem é realmente necessário.

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