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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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A força da Agricultura Brasileira, a força de uma nação

Assessoria

No Brasil, logo após a Revolução de 1964, houve um verdadeiro impulso para o desenvolvimento da agricultura nacional. O progresso até então se resumia a esforço dos principais produtores e algumas entidades estaduais de pesquisa, com lavouras de trigo que possibilitaram a criação das cooperativas tritícolas no RS e no PR. Nesta época desenvolveu-se um sistema de aquisições organizadas em safras através do CETRIN, órgão que comprava e pagava a vista o cereal colhido. O trigo previsto tinha um bom valor de mercado e as receitas impulsionaram o crescimento das propriedades, gerando regiões ricas e desenvolvidas.

A partir de então, começou a surgir a lavoura de soja para ser plantada na safra de verão. Logo no começo, os agricultores a chamavam de “Feijão de Porco”, pois no processo inicial de aproveitamento os grãos eram colocados em tambores e em seguida distribuídos para alimentar os porcos. Isso permitiu que os animais se desenvolvessem com muita rapidez. Daí começaram a aparecer as primeiras sementes que vinham da região que lhe deu o nome, sementes “Santa Rosa”.

E como não havia equipamentos adequados para o plantio, eram utilizados os mesmos para as sementes de trigo, com espaçamento de 17 cm de entrelinhas. Porém, depois se retirou uma linha no meio e passou a ser adotado o espaçamento de 34 cm. Logo em seguida apareceram as primeiras indústrias de soja. Na região de Cruz Alta e arredores surgiu a empresa americana de nome Anderson Clayton Co., que passou a comprar em larga e escala e produzir óleo bruto e farelo.

A partir da década de 70, impulsionados pela propaganda e incentivos governamentais, os produtores foram subindo e ocupando o Brasil central. As terras eram planas e com regime de chuvas regulares. Porém, tratava-se de terras que tinham cerrados, matas e terras fracas de fósforo e matéria orgânica. Mesmo assim o governo incentivava o desmatamento cobrando índices de utilização, ainda que as áreas servissem apenas para o plantio de arroz de sequeiro, a primeira cultura a ser introduzida até que as áreas estivessem devidamente prontas para a agricultura.

Acontece que a semente de soja produzidas no Sul, quando plantadas no centro oeste não cresciam e logo floresciam, as plantas ficavam rasteiras sendo inviável o plantio. Eis que lá por 1973 em uma viagem de carro que fiz a Brasília, descobri no entorno do Distrito Federal lavouras de um agrônomo, no caminho de volta de Unaí, perto da penitenciária Papuda. Ele havia descoberto a chave para o crescimento da cultura no centro do país, a cultivar se chamava Cristalina.

Depois desse episódio, a soja foi cada vez mais se firmando como principal cultura agrícola brasileira, em um ciclo virtuoso como foi o da cana e do café no passado. Primeiro, no final da década de setenta e oitenta, a soja foi ocupando um papel central na alimentação animal, ajudando a indústria de carnes a responder a uma demanda crescente da população brasileira. A verdade é que ainda não surgiu uma proteína vegetal mais barata e de qualidade no mundo que se compare a soja. E ao ser produzida no país, reduziu o custo do produto aos granjeiros e aumentou sua competitividade.

Por isso, a cadeia que mais se beneficiou foi a de carnes de aves, já que os frangos são os animais com melhor conversão alimentar. A produção de carnes de frango cresceu cinco vezes na década de setenta, superando a carne suína. Nas décadas seguintes, superou o consumo de carne bovina.

E assim, em bases sustentáveis, a soja seguiu crescendo em produção ano após ano, gerando excedentes exportáveis, até dar ao Brasil ao final da década de noventa, posto de destaque como exportador da oleaginosa, chegando a destinar 10 milhões de toneladas ao mercado internacional em 1999.

A partir deste ponto, o país adquiriu papel de destaque no cenário mundial como fornecedor de alimentos. Passamos a produzir excedentes de frangos, suínos e vários outros grãos, mas destacadamente de soja. O consumo mundial da oleaginosa dobrou entre a década de setenta e noventa e cresceu mais de 50% no século seguinte e o Brasil foi um dos países que mais respondeu a essa demanda, participando com um terço do fornecimento de toda a soja consumida no mundo. Foi um feito histórico!

O mercado se globalizou, entidades estaduais representativas dos produtores de soja, com solidez e objetivos claros foram criadas e se firmaram na primeira década do século XXI, as APROSOJAS. E seguiram na segunda década, consolidando um novo modelo de representatividade, onde os próprios produtores se representam, sem remuneração, e decidem suas pautas de reivindicação.

Conseguimos firmar um modelo mais justo, onde ou não há reeleição ou só se permite estatutariamente que o presidente se reeleja uma única vez. Isso permitiu uma oxigenação fantástica ao modelo, incentivando o aparecimento de novas lideranças e a profissionalização da representação dos sojicultores. E podemos afirmar que foi o que trouxe um relativo equilíbrio a representação dos produtores rurais deste país.

Hoje, apesar dos sojicultores serem peças fundamentais para que toda essa evolução fosse possível, temos sido constantemente afligidos com invasões de terras por índios e militantes do MST. Sendo perseguidos e demonizados pelo desmatamento irregular de madeireiras ilegais, enquanto aguardamos há anos a licença do órgão ambiental competente para abrir legalmente parte de nossas propriedades.

Ou seja, de forma recorrente enfrentamos a insensibilidade do governo, eivado de pautas ideológicas, ignorando projetos pragmáticos de desenvolvimento realmente sustentável, junto com ONGs, atores globais e outras figuras sem compromisso com o Brasil, investem contra o setor produtivo que ainda dá algum folego a estabilidade socioeconômica do país.

Pois bem, embora parte do governo ainda se empenhe em desconstruir aquilo que nós construímos com nosso suor e trabalho, a grande roda da história seguirá girando e contando os fatos. Que homens empreendedores fizeram tudo isso. Que a soja seguirá sendo a principal commodity agrícola exportada pelo Brasil. Que ainda que tentem negar, o Brasil seguirá sendo um país agrossilvopastoril, com um agronegócio forte e importante para a nação.

E hoje, mais fortes e organizados, com reconhecimento público de políticos, economistas e do próprio governo de nossa importância, com a Aprosoja, CNA, FPA, não baixaremos a guarda, buscaremos novas conquistas, sempre com bases sustentáveis. Afinal, nosso patrimônio, nossas propriedades, tudo ficará para os nossos filhos e queremos que sejam passadas para os filhos dos filhos. Sabemos de onde viemos, sabemos para onde queremos ir, somos brasileiros, somos patriotas, somos agricultores, somos o Brasil.



*Décio Teixeira - Presidente APROSOJA RS
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