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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Brasil e México protagonizam uma fábula cheia de contrastes

As diferenças na sorte dos mercados emergentes globais podem ser vistas nas duas maiores economias da América Latina: México e Brasil.

Pensemos na história da tartaruga e a lebre. Na última década, o Brasil cresceu muito com a venda de matérias-primas para a China. Sua classe média em expansão se fartou com uma onda de crédito barato, deflagrada pelos bancos centrais das economias avançadas ao tentar energizar a recuperação de suas economias.

O Brasil cresceu a uma média de 3,6% ao ano nos últimos dez anos, chegando ao pico de 7,5% em 2010. O real aumentou de valor. Os sinais habituais de excesso ficaram patentes: brasileiros se apinhando nas lojas de Nova York e Miami; jornais noticiando que em São Paulo uma pizza de muzzarela custava US$ 30 e um martini, US$ 35.

Em comparação, o México vem tendo um crescimento medíocre, em parte porque está atrelado à combalida economia dos Estados Unidos. O país também sofre com a gravidade de seus próprios problemas: leis que proibiam o investimento estrangeiro em energia, um regime tributário disfuncional, um sistema de educação em péssimas condições e uma economia rígida e inflexível, dominada por um punhado de quase-monopólios. Há também a crescente violência ligada às drogas, o que afastou turistas e investidores.

O crescimento econômico mexicano atingiu, em média, uma taxa anual decepcionante de 2,6% nos últimos dez anos, enquanto o peso se desvalorizou.

Agora, as coisas se inverteram. O Brasil está sendo punido pelos investidores à medida que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, sinaliza que vai frear sua política monetária de dinheiro fácil. Ao mesmo tempo, a fome de matérias primas da China está diminuindo. O real e as ações brasileiras caíram significativamente este ano.

"O Brasil se saiu muito bem ao longo dos últimos dez anos, aproveitando um boom de commodities que transferiu um enorme volume de riqueza da China", disse David Rees, economista de mercados emergentes da Capital Economics. "Agora isso está chegando ao fim."

Em grande parte, o Brasil desperdiçou a bonança, investindo pouco em estradas e outros setores que poderiam promover o seu desenvolvimento. O governo vem buscando um modelo econômico liderado pelo Estado, tornando muitos de seus setores não competitivos no exterior. E tanto as empresas como as famílias se sobrecarregaram de dívidas, restringindo ainda mais o crescimento futuro. O país desenvolveu um déficit comercial que tem que ser financiado pelo capital estrangeiro.

Enquanto isso, o México usou os anos das vacas magras para reformar sua economia, consertando suas leis trabalhistas, seus sistemas de ensino e de telecomunicações e seus setores financeiro e de energia. Economistas esperam que, se concluídas, essas reformas elevarão o potencial de crescimento do país.

Ao mesmo tempo, o México tem um déficit comercial relativamente pequeno, facilmente financiado pelo investimento estrangeiro de longo prazo nas empresas e fábricas do país. O México não é tão dependente de fluxos instáveis de dinheiro estrangeiro de curto prazo e, assim, tem sido menos afetado pela turbulência que agita o Brasil e outros países emergentes.

A história do Brasil e do México ajuda a ilustrar por que as situações dos mercados emergentes são hoje tão divergentes. Nos últimos cinco anos, economias em desenvolvimento como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os chamados Brics, foram os motores do crescimento global, enquanto as economias desenvolvidas enfrentavam os efeitos da crise financeira.

Para apoiar suas economias, os bancos centrais dos EUA, Reino Unido e Japão compraram títulos de dívida, baixando suas taxas de juros para mínimos históricos e provocando uma debandada de capital para os mercados emergentes, em busca de rendimentos mais altos. Com o Fed sinalizando que vai começar este ano a reverter seu programa de compra de títulos, de US$ 85 bilhões por mês, o fluxo está se invertendo e o dinheiro está fugindo dos países em desenvolvimento.

Na lista dos perdedores estão países com grandes necessidades de financiamento — seja porque têm grandes déficits comerciais ou orçamentários, ou porque fizeram pesados empréstimos no exterior. Brasil, Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul sofreram grandes quedas em suas bolsas nas últimas semanas.

Outros como México, Filipinas, Polônia e Coréia do Sul sofreram hemorragias menores. Em geral, esses são países com pouco déficit comercial para financiar e dívidas relativamente pequenas, tanto públicas como privadas. Também são os países que exportam produtos manufaturados para os EUA e Europa, regiões em lenta recuperação, e não matérias-primas para a China.

Ao contrário dos Brics, eles cresceram mais lentamente nos últimos anos, sem acumular grandes desequilíbrios na balança comercial nem grandes dívidas. Fizeram as reformas necessárias e não se tornaram dependentes da China.

É a vingança das tartarugas.
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