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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Entrevista

PAULO GASPAROTO

“O setor está temeroso do que pode acontecer no ano de 2015”, afirma o presidente da CDL-Cuiabá

Foto: CDL-Cuiabá e Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

“O setor está temeroso do que pode acontecer no ano de 2015”, afirma o presidente da CDL-Cuiabá
As altas taxas de juros e inflação em 2014 levam o comércio mato-grossense a não ver 2015 com bons olhos. A expectativa é que o período de liquidações, que ocorre em janeiro, e os meses de fevereiro e março sejam meses de baixas vendas. O temor do setor é visto inclusive quanto às recomposições de postos de trabalho e até mesmo na ocorrência de desligamentos.

De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL-Cuiabá), Paulo Gasparoto, o comércio já imagina 2015 como um ano de dificuldades.

Em entrevista ao Agro Olhar, Paulo Gasparoto comenta, ainda, que o comércio vislumbra uma possível melhora da economia a partir de 2016 e que as notícias de altas taxas de juros e inflação, além de aumento de preços, como do combustível, estão deixando os consumidores receosos na hora de ir às compras.

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Confira a seguir a entrevista com o presidente da CDL-Cuiabá:

Agro Olhar - Está se vendo inflação em alta, taxas de juro em alta e inadimplência em alta. Como o comércio está vendo o ano de 2014? Como o setor está vendo Cuiabá e Mato Grosso?

Paulo Gasparoto - O comércio por natureza ele é otimista com relação à suas atividades. Nós tivemos um ano de 2013 já não foi um ano considerado muito bom pelo comércio e estamos convivendo em 2014, também, com uma série de dificuldades, uma vez que as vendas não crescem, mas como a venda é o único gerador de receita por outro lado crescem assustadoramente as despesas. Então, cria um desequilíbrio dentro das atividades econômicas, principalmente o comércio, e isso leva o empresário a ficar estritamente cauteloso com relação às suas atividades, uma vez que também temos projeções para 2015, com vários indicadores econômicos, que vamos conviver com ainda muito mais dificuldades. Então, como o comércio passou por um período de abundância nos anos de 2010, 2011 e 2012 eu acredito que ele está relativamente muito bem capitalizado para passar esse período de extrema dificuldade. O que nos preocupa são as micro e pequenas empresas, porque elas por natureza das suas atividades convivem com a burocracia fiscal violenta, de uma forma que ela não consegue mais nem conviver com isso, convive com aumento de aluguel, de gasolina, de energia, aumento do custo de folha de pagamento. As pequenas e micros já veem seu capital de giro com taxas muito mais elevadas. Estas pequenas e micro empresas não podemos esquecer que significam 90% das empresas no estado de Mato Grosso e tem a maior empregabilidade. Este é um fator que o governo teria que se preocupar no sentido de desburocratizar as atividades do comércio, serviços e indústria para as micro e pequenas empresas e logicamente olhar com muita cautela a parte tributária que realmente sangra, retira, subtraí do seu capital de giro as condições necessárias para ter sustentabilidade em seus negócios.

Agro Olhar - Como o setor acredita que vá ser o ano de 2015, diante deste cenário que se vive em 2014?

Paulo Gasparoto - Nós imaginamos um ano de 2015 com relação a 2014 com mais dificuldade. Hoje, nós temos um dólar na casa dos R$ 2,50 e isso vai alterar profundamente as importações brasileiras, que grande parte do que consumimos são produtos importados, vai impactar duramente na inflação, e isso vai fazer com que o salário do trabalhador fique ainda muito mais comprometido. Além de outros fatores na área política, que nós convivemos hoje com muitas dificuldades, com um governo reeleito com uma série de dificuldades que nós não sabemos como irá se comportar no ano que vem. É de extrema cautela. O comércio mato-grossense é um comércio que hoje é comparado aos principais estados brasileiros. Cuiabá também tem um comércio extremamente ativo, pujante, com vários shoppings, várias lojas de rua, que não perdem absolutamente em nada para as grandes capitais brasileiras. Mas, isso nos permite dizer com segurança que o setor está temeroso do que pode acontecer no ano de 2015.

Agro Olhar - O setor acredita que possa haver uma retomada, uma recuperação do que se está vendo hoje a partir de 2016 ou 2017 como já há uma especulação?

Paulo Gasparoto - Todo mundo sabe que 2015 será o ano das grandes dificuldades. Quem sabe 2016 nós possamos vislumbrar melhores possibilidades do crescimento da economia. Nós não podemos perder de vista que o país tem crescimento zero e em um país que não cresce nada, que tem uma inflação de 7% e um juro de 11,25% com um viés para os próximos 12 meses de alta, é uma equação extremamente complicada de ser resolvida pela área econômica do governo federal.

Agro Olhar - Como é que o setor do comércio está vendo as projeções para o Natal?

Paulo Gasparoto - O Natal é uma data universal aonde as pessoas fazem de tudo o que elas podem para poder comemorar esta data, que é o nascimento de Cristo. Eu vejo o Natal ainda com otimismo. Eu acho que as pessoas vão fazer todo o possível para pode comprar os seus presentes, poder fazer a sua Ceia de Natal, poder conviver com os seus familiares. E o comércio, também, sente que não teremos nenhum crescimento, mas não será nada desastroso que de uma hora para a outra possa desestabilizar as atividades do comércio. Então, eu vejo o Natal com otimismo, vejo o mês de dezembro relativamente bom para o comércio, mas com uma possível ressaca nos próximos meses de janeiro, fevereiro e março, até o Carnaval muito grande.

Agro Olhar - Então o período de liquidação pode ser aquém do esperado?

Paulo Gasparoto - Eu vejo que vão ser meses de extrema dificuldade. Cada comerciante irá procurar a maneira, inclusive, que o dezembro se comportar, para que ele faça as suas liquidações, venha a desovar os seus estoques, renovar o seu capital de giro para poder bancar, logicamente, todos os seus custos, manter o seu nível de funcionários, que nós estamos olhando isso também com muita preocupação. O comércio já vem desempregando há vários meses e isso é um sintoma bastante ruim, muito embora convivamos com altos índices de taxas de empregabilidade, mas o comércio já vem dando uma resposta negativa ao emprego. Aqueles que não vêm demitindo não vem substituindo, o funcionário sai e ele não vem repondo os quadros já receoso de elevar mais custos já se fortalecendo para poder conviver com os primeiros meses de 2015.

Agro Olhar - Como o setor está vendo a questão da confiabilidade do consumidor na hora de comprar? O consumidor está receoso com estas taxas de juros, com a inflação?

Paulo Gasparoto - Acredito que o principal motivo, hoje, de se criar esta expectativa negativa é em função do consumidor estar inseguro. Ele está recebendo uma enxurrada de informação. Todas as informações negativas. Então, começa com uma série de promessas que tinham sido feitas antes das eleições e que bastou mudar o calendário para outra semana (pós-eleição) tudo se transformou. Além dos escândalos, da corrupção, nós temos convivido com aumento de taxa de juro em seguida as eleições, com viés de alta para todo o 2015 o que é ainda muito complicado. Não repassou ainda todo o aumento da gasolina do diesel, porque é para segurar a inflação até 31 de dezembro de 2014. Nós sabemos que em janeiro a Petrobras não terá outra maneira a não ser aumentar os seus preços novamente para poder compatibilizar a sua receita e despesas. Enfim, são todas essas informações que chegam e invadem a casa do consumidor e ele fica temeroso. Ele fica temeroso com o seu emprego, temeroso com a inflação descontrolada que está roendo e corroendo o bolso dele. Essa insegurança vai fazendo com que ele se acautele às vezes até mais que o necessário e acaba logicamente diminuindo as vendas de todo o comércio. E nós temos que considerar também outro fator muito importante: grande parte da Classe C brasileira, que é mais ou menos 50% da população, está endividada com dívidas de médio e longo prazo. Não é aquela dívida que você foi comprar em três vezes, quatro vezes. São endividamentos de longo prazo. Minha Casa, Minha Vida, é o automóvel, a motocicleta, móveis e utilidades domésticas, ou seja, é uma série de dívidas que vão adentrar ainda por vários anos e isso logicamente, também, faz com o que sobre ele fique ainda muito mais temeroso para poder bancar as despesas básicas da sua família e isso causa temor em todas as famílias brasileiras e o comércio acaba também se ressentindo com ele.
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